terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sobre cotas raciais/sociais

Então, vamos começar explicando o porquê do post.
Meu amigo, Sr. Andreywat, perguntou minha opinião sobre o assunto, mas como o texto foi aumentando e aumentando e aumentando, resolvi compartilhar aqui no blog -q

Enfim, ele perguntou se eu era a favor ou contra as cotas raciais. Aqui vai o texto:

As cotas raciais (que já é errada por generalizar preconceito racial apenas à raça negra) tem como objetivo sanar a dívida social histórica devido à escravização, certo?
Os escravizadores morreram faz tempo, assim como os escravizados. O que resta, a real "dívida", é a condição precária hereditária associada à raça. Só que, assim como o comum é encontrar famílias de descendentes destes escravos na precariedade, também existem famílias negras que ascenderam socialmente, e não pouco.
Logo, a dívida não pode ser considerada RACIAL, uma vez que há exceção à regra. Afinal, se uma família conseguiu, o que impede as outras de conseguirem? O problema é que essa dívida não deixa de existir, mas a gente já volta a ela.

Aí existe o preconceito, herdado pela sociedade, que prejudica na formação da criança por motivos de: bullyng. Ela passa a acreditar que é diferente e a criar um rancor contra a parte preconceituosa, formando um "bloqueio" de ódio, seja de que forma ele tomar. Esse ciclo de preconceito é o que todo mundo acha que é a "dívida social", mas é só o real problema de preconceito racial contra os negros.

Bom, como deve ser sanada a dívida, então?
Primeiro, dá pra concluir que o fruto da escravização não só é o preconceito, mas a condição precária associada desde o nascimento a estas famílias relacionadas de alguma forma com descendentes de escravos.
O preconceito é algo muito além de sócio-econômico que o governo possa resolver. É algo difundido pela sociedade inteira e que, assim como foi difundida, deve ser eliminada através da cultura. Um exemplo hoje é o Obama dando outro cala-boca nos preconceituosos norte-americanos.
O problema que deve ser debatido então é a segregação social, que não acontece só com famílias negras e já engloba outra parte da população. Cotas SOCIAIS deviam resolver ambos os problemas, mas nunca cotas RACIAIS. Assim como evidenciada nos debates de igualdade sexual, nunca haverá igualdade enquanto houver tanto prejuízos quanto vantagens a uma das partes. O mesmo se aplica à desigualdade racial e também deveria se aplicar à desigualdade social (mas é um caso muito mais complicado e desigual)

Enfim, sou a favor ou contra?
Bom, mesmo caso as cotas sociais funcionassem, tem sempre o problema do governo querer bater sempre na mesma tecla: dar privilégios e não cobrar.
Uma coisa que meu professor de Tecnologia e Sociedade já debateu em sala sobre o bolsa-família:

"De quê adianta o governo dar um benefício todo mês se não cobra nada em retorno do sujeito!?"
Ou seja, o "sujeito" toma o benefício como garantido e o usa como bem entender. Um exemplo que o professor deu foi estipular um prazo máximo de validade do benefício e a obrigação do(s) responsável ou responsáveis pela família de fazer um curso profissionalizante e entrar no mercado.
Então, além de aplicar uma medida corretiva de curto-prazo no problema, o governo também estaria resolvendo o problema a longo prazo. Mas o que acontece é bem o contrário, não?
O bolsa-família é abusado pelos beneficiários do programa, usado como bem entenderem e raramente revertido numa real melhora da própria condição social, passando o problema para a próxima geração da família.

O mesmo acontece com cotas raciais, embora seja muito menos crítico. Afinal, é um dos principais argumentos anti-cotas raciais: pessoas que nunca sofreram de preconceito usufruindo de cotas raciais e pessoas que, sofrendo ou não do preconceito, nunca nem se incomodaram a estudar com afinco por saber que existem as cotas.
Junto com o benefício deveria vir uma cobrança. Um período de jubilamento menor, um limite de matérias reprovadas menos ou algo que balanceasse a vantagem de passar por sistema de cotas. Algo que fizesse o indivíduo que passou por cotas assumir o compromisso com o programa que o beneficiou, que o fizesse digno deste benefício.

Está aí:
Eu sou CONTRA as cotas raciais.
Eu sou A FAVOR das cotas sociais que, embora sejam mal formuladas hoje, são a única medida remediativa dos reflexos da desigualdade social na educação.