quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Nihon Chronicles part 2 of ?

Bom, to aqui na calada de madrugada, como de costume, pensando sobre várias coisas ao mesmo tempo e bateu aquela saudade de escrever um pouco (que, confesso, faz a atividade de pensar em várias coisas bem mais focada e menos extenuante).
Diabos, bateu saudade de ao menos articular decentemente a minha língua natal ao invés de ficar balbuciando que nem um analfabeto o dia todo... Se bem que, dando-me o devido crédito, acho que já consigo formar conversas decentes com uma criança de 5 anos.

Enfim, senhoras e senhores, segurem suas respirações porque... Tá na hora de eu soprar esse e-pó todo que juntou nessa e-stante... sabe, nesse e-domínio...
É, deixa pra lá, melhor começar de novo.

E aí, gente!
Se vocês queriam saber se eu estou vivo, vim aqui dizer que não só estou vivo como só fui preso uma vez!!! (até agora)

Bom, como tema pra essa segunda (e, se contar o intervalo de tempo médio entre meus posts, a última) parte sobre o Japão, resolvi falar sobre as relações sociais aqui ao invés de ficar falando sobre minha rotina e vida pessoal, como havia falado que faria (nope, não vai ser dessa vez, querido diário).

Indo direto para o que interessa, conforme eu fui melhorando meu japonês, também fui fazendo mais amizades e/ou amizades mais íntimas, que me levou a uma percepção um pouco diferente sobre a sociedade como um todo.
Pelo que eu li pela internet, eu sou um entre milhares de pessoas que passam por essa mesma fase ao se mudarem para o Japão, mas, da mesma forma como esses artigos não me convenciam antes, não acredito que eu vá convencer ninguém assim, de segunda mão.
Mas eu estou só desviando o assunto, vamos aos fatos:

No Japão, você tem basicamente 4 tipos de relações sociais: familiar, amigos do mesmo sexo, amigos do mesmo clube/laboratório/emprego/classe e veteranos/calouros. Sim, são relacionamentos completamente diferentes e é muito raro que eles se misturem. E sim, amigos do sexo oposto são raríssimos.
Não posso dizer muito sobre os relacionamentos com a família por experiência própria, mas sobre o resto acho que já vi/perguntei o suficiente pra ter alguma opinião.
Pulando toda a enrolação e categorização, o seu japonês regular de todo dia tem seus amigos de mesmo sexo de qualquer lugar, seus amigos que entraram juntos no mesmo clube/trabalho/etc. (que compõe um círculo social completo e fechado) e as pessoas que entram antes ou depois nesse mesmo clube/etc.

O primeiro se refere à coisa mais próxima que temos da amizade como a conhecemos no Brasil, porém há uma clara barreira em amizades entre pessoas de sexos diferentes. Num país onde até abraçar alguém em público é um ato meio que desdenhado, as turmas de meninos e de meninas se fecham desde cedo, e ninguém quer ser o primeiro a "atravessar a rua".
O segundo se refere a um tipo de amigo com quem só se compartilha coisas sobre o clube-e-cia em comum. Todo esse círculo social fechado compõe uma grande "entidade", onde todos participam, todos cuidam, mas ninguém se sobressai como um amigo íntimo na frente dos outros. Por mais que sejam bons amigos, o que mais se aproxima disso é o nosso conceito de "colega".
Por último, temos o conceito de amizade menos amigável, o de veteranos/calouros. Enquanto os veteranos têm a obrigação de ensinar e educar os calouros sobre como as coisas funcionam, sejam aulas num clube ou pesquisas num laboratório, os calouros têm a obrigação de demonstrar um respeito inabalável e gratidão pelo favor. Bom, de certa forma, até parece um conceito bom e não tenha dúvidas que isso faz qualquer círculo social ser estável e retrossustentável. Mas o problema é que, por alguma razão que ninguém sabe explicar (vulgo pressão do senso-comum), ninguém nunca deixa esses tratamentos de lado, pois ninguém quer ser um calouro insolente ou veterano indiferente, e isso é a principal barreira que impede pessoas de gerações diferentes de serem amigas.

Para concluir, a sociedade japonesa parece um grande baile de máscaras, muito mais dos que já estamos acostumados a ver na cultura ocidental, onde tudo parece perfeito, mas na verdade verdadeiros amigos são algo tão raro quanto achar leite condensado aqui no Japão. Mas isso também não quer dizer que essas barreiras e inibições não podem ser quebradas, só significa que nenhum japonês bem educado vá tomar qualquer iniciativa para quebrá-las :)

Por fim, tem muito mais coisas que eu gostaria de explorar, tanto consequências do que foi tratado no texto agora quanto outras coisas a mais, mas por enquanto o texto já ficou pesado e eu realmente deveria dormir, por tanto...

じゃ!また今度ねー

PS: Como ainda está faltando no texto, ataque fanboy da vez: http://kotaku.com/you-can-drink-liquid-cookies-in-japan-1665588974