quinta-feira, 2 de junho de 2011

Dever moral ou obrigação social?

Muitas vezes você já deve ter ouvido alguém falar algo do tipo: "Ué, você não tem o direito de ficar doente, não!?" pra justificar o não cumprimento de algum dever...

Pois bem, taí a raíz do que chamamos de "Jeitinho Brasileiro"

Vou começar explicando o que eu entendo sobre os dois termos:

- Dever Moral:
É o sentimento que se tem de que algo deve ser cumprido, em prol da própria moral do indivíduo. Um exemplo seria ofecer o lugar no ônibus para as outras pessoas mais cansadas, pegar lixo no chão, etc.
Num ambiente um pouco diferente, digamos... no seu trabalho, o seu dever moral seria ser cada vez mais útil e eficiente à empresa.
Na esfera das artes, seria como fazer uma música excepcional, beirando sempre à perfeição, ou atuar com coração e alma. Ou até (no exemplo que eu gosto) um videogame bom, com uma história envolvente e blablabla que fez os gamers amarem tanto os jogos.
Enfim, o seu dever moral basicamente é dar o máximo de si, além dos compromissos assumidos com a sociedade. Ao cumprir o seu dever moral, o indivíduo se sente realizado e "honrado".

- Obrigação Social:
É o mínimo necessário que uma pessoa pode cumprir do seu dever moral para com a sociedade, sem que sofra as sanções estabelecidas pela mesma. Resumindo, é empurrar os seus deveres com a barriga o suficiente pra que não seja sua culpa que algo não dê certo.
É aquele cara que "finge que não viu" papéis no chão, mendigos precisando de ajuda, pessoas que precisam de um lugar no ônibus... Mas não me entenda mal! Oferecer o lugar a idosos, getantes, deficientes e pessoas com crianças de colo ainda é obrigação social. A "lei" do senso comum está lá, explícita, com suas sanções estabelecidas pela sociedade.
Continuando... No trabalho, é aquela pessoa que finge que está doente, que quando adianta o trabalho compensa o tempo perdido nele com ócio depois, que não gosta de trabalhar, etc.
Nas artes, seriam aqueles músicos que só fazem o que precisam pra vender A LOT, como, por exemplo, o Sr. Justin Bieber (já viram quantas 15 versões diferentes de cada música tem no álbum "My World" ou algo assim?). Nos videogames, são aquelas empresas que fazer jogos ridículos, mas com muito, MUUUUUUUITO merchandising, como Kingdom Hearts (vide >isso aqui<)
De exemplo em exemplo, a idéia é que a obrigação social é fazer o mínimo possível para cumprir os compromissos assumidos com a sociedade, ou seja, a lei do menor esforço aliada ao "a culpa não é minha se não sou perfeito(a)".

Vamos a le problemática:
Quando que o dever moral se confunde com a obrigação social?
Quando que deixamos nossa honra e paixão pelo que fazemos de lado e passamos a "empurrar com a barriga"? (haja barriga, Sr. Procrastinação!)

Eis que tem um ensaio de dança marcado (por mim) em um domingo qualquer. O compromisso que eu assumi foi ensinar a dança a quem vier; a minha moral diz para dar o máximo de mim e chegar cedo, ensinar bem e etc.
Então a minha irmã vem me cobrar uma visita à casa do meu pai e sugere que eu falte ao ensaio justificando: "Ué, por acaso você não tem o direito de ficar doente!? Só você que não pode faltar nenhum dia? E daí que o ensaio depende de você?"
De certa forma, ela está certa. Eu teria, sim, o direito de faltar e todos entenderiam e me perdoariam por isso. Sem culpa, sem ressentimentos de ninguém. Porém, a que custo? Um ensaio perdido.
E é nessa cobrança que começam a se confundir dever moral e obrigação social, pelo simples critério da sua própria consciênia e moral.

É uma auto-cobrança difícil que precisa de muita motivação e por isso que é tão raro enontrar uma pessoa honrosa com os seus compromissos... E é por isso que é tão FÁCIL achar gente folgada e hipócrita por aí...

Agora deixo à critério de vocês...
O que seria o "Jeitinho Brasileiro"? Porque é tão impossível mudar um país com esse jeitinho?
Lição de casa, alunos, pensem por si mesmos :)

Um comentário:

  1. Basicamente, o jeitinho brasileiro provém do umbigocentrismo... A maioria da população brasileira não se importa com outros, só para "os" outros (vulgo, famílias, pessoas importantes, amigos, etc). Por que é tão difícil o brasileiro se movimentar como um grupo para mudar o que há de ruim? Por que a menos que alguém próximo de você (ou você mesmo) sofra desse mal, você não vai achar tão mal.
    O valor da palavra, do compromisso, do bem ao próximo estão dissolvidos na nossa sociedade, e para concertar isso, temos que saturá-lo. Mas mudar os valores de uma sociedade inteira é algo muito difícil. Os curitibanos, por exemplo, é um exemplo bem sucedido de mudança de valores, pois somos um povo ecologicamente corretos em geral. Mas para mudarmos essa realidade, não basta somente os curitibanos. Precisamos mudar, os londrinenses, os olindenses, os soteropolitanos, os barrigas-verdes, os paulistas! Educação de princípios, desde a infância, é a melhor maneira.

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